Com o fim da Saga do Infinito (2008-2019), os fãs da Marvel martelaram a questão “qual será o novo foco deste universo compartilhado?”. E a Fase 4 tem estabelecido muito bem o quão grandiosos são os seus planos. Mesmo que ainda não tenhamos um nome oficial, Loki acaba de lançar adiante a “Saga do Multiverso”.
Com direção de Kate Herron e roteiros liderados por Michael Waldron, Loki é tanto o primeiro projeto focado no Asgardiano de Gelo, quanto o terceiro fruto da parceria entre Marvel Studios e Disney+. Com a concepção de que este é um filme com mais horas de desenvolvimento, a 1ª temporada do seriado nos trouxe 6 episódios com média de duração entre 40-60 minutos.
A trama se inicia logo após o Rei da Mentira de Tom Hiddleston escapar com o Tesseract. Ato que vimos ocorrer durante “Vingadores: Ultimato”, enquanto os heróis haviam retornado aos eventos de “Os Vingadores”, em 2012. Por isso, o protagonista da série seria uma Variante do personagem conhecido.
Com isso bem estabelecido, Loki nos leva em uma viagem sci-fi com belas pitadas de drama policial, para descobrirmos quais são as entidades que cuidam da segurança do tempo e impedem a existência do multiverso do MCU.
A apresentação da proposta do seriado

No mundo dos seriados, temos como normal a apresentação de uma proposta e de personagens por meio de pilotos. Os pilotos servem como uma demonstração bem mastigada do que o resto do seriado poderá entregar. Com Loki, não temos um episódio piloto oficial, mas podemos considerar os seus dois primeiros capítulos como tais.
Em uma crítica prévia, tratamos de dissecar boa parte do que o 1º capítulo (“Glorioso Propósito”) se propôs a trazer. Resumidamente, podemos evidenciar o fato de que este foi um dos episódios pilotos (espiritual) mais carregados de informação que nós, do Sanatório Geek, já cruzamos na mídia.

É adequado dizer que este início trata de cuspir conceitos na cara dos telespectadores. Não é difícil chegar a conclusão de que o tema “viagem no tempo” e “realidades alternativas” seja complexo de se mexer. Ainda mais se aplicado a um universo já bem estabelecido ao longo de mais de uma década.
Portanto, é louvável a decisão de trazer uma grande exposição logo nos primeiros minutos desta nova jornada. Vejam bem, exposições – na maior parte das vezes – são uma maneira preguiçosa de se inserir contexto a uma história. Mas, ao colocar o expectador na pele do protagonista (Loki) este artifício torna-se válido.
Porque assim como Loki, nós não sabemos quem são:
- A AVT (Agência de Variância Temporal);
- Os Homens-Minuto;
- Os Temp Pads;
- O agente Mobius,
- A juíza Renslayer;
- Os Guardiões do Tempo;
- Os Eventos Nexus;
- A Guerra Multiversal;
- A Linha do Tempo Sagrada.
Para conduzir este carrossel de novidades, Loki trouxe a própria Agência de Variância Temporal como condutora de informações vitais da estrutura que todo o seriado viria seguir. Mais especificamente, temos a sua mascote, a Senhorita Minutos, como nossa professora particular.
Essa personagem, assim como o resto da direção artística e composição sonora da série, merece aplausos por ser criativa, condizente e inovadora para o universo cinematográfico em que se situa. Pois trata de trazer algo novo, fora da fórmula que muitos outros repetiram com os anos.
Bem, então estabelecemos que o começo de Loki consegue atrair de volta àqueles já calejados pelo MCU, ao mesmo tempo em que instiga os novatos e exploradores do Disney+, habituando-os no onde e porquê de tudo que vêm sido demonstrado pela série.
O que não fez sentido no início de ‘Loki’

Enquanto ao 2º episódio (“A Variante”), podemos rotula-lo como uma espécie de “Piloto Part II”. Enquanto o seu antecessor se assemelha a um veículo em alta velocidade, este pode ser equiparado a uma bicicleta com rodinhas.
Com uma pausa no ritmo acelerado de antes, “A Variante” pisa no freio e nos apresenta respostas para uma importante questão: Agora que Loki sabe de tudo aquilo, como é que ele planeja se encaixar e quais serão os seus primeiros passos?

Sem sombra de dúvidas, o maior feito deste capítulo é o desenvolvimento de Mobius como um dos personagens principais de Loki e de sua relação com essa variante do antagonista de “Os Vingadores”. Porém, nem tudo são rosas, já que um artifício utilizado pelo roteiro para prosseguir na história acaba sendo sem sentido.
Apesar de interessante, a ideia de que a AVT – em seus milênios de existência – nunca lidou ou soube da incapacidade de Eventos Nexus ocorrerem em apocalipses é estranha. Todavia, não prejudica a história. Sendo este apenas um mero detalhe e um furo de roteiro perdoável.
Agora, se vamos falar de furos de roteiro, podemos trazer à tona uma das maiores inconsistências que nós já vimos em um seriado: o bombardeamento temporal feito por Sylvie, que encerra o capítulo como um excepcional cliffhanger. Daqueles em que nos encontramos cerrando os dentes e tudo mais.
Mas… só isso acontece. Depois do ataque em escala imensurável, Sylvie passa a conhecer a sua cara metade masculina e a AVT resolve a sua bagunça por trás das cortinas. Um erro completamente burro e imperdoável.
A construção dos novos personagens

Deixando a obra geral de lado por uns instantes, devemos nos direcionar para àqueles responsáveis por carregar tudo adiante. Acabamos de elogiar o quanto a primeira metade do seriado constrói Mobius, o que fez ele ser o meu personagem predileto disparado naquelas semanas.
Entretanto, depois da verdade sobre a AVT e os Guardiões do Tempo começarem serem apresentadas (especificamente no 3º episódio, “Lamentis”), o entusiasta de jet-skis some e só volta a ser usado como ponte para o resto dos personagens e da trama. Até mesmo a sua “última“ cena – contra Ravonna – deixou a desejar.
Por falar em Ravonna Renslayer, essa conseguiu ser melhor explorada do que seu ex-melhor amigo. Vemos tanto o passado da personagem na agência quanto a sua origem na terra que, inclusive, é referenciada sutilmente por meio da caneta a qual a juíza é afeiçoada desde o início.
Já sobre os secundários, como a caçadora B-15, Kid Loki e Loki Clássico,conseguem brilhar em suas cenas individuais – mesmo que este último não pareça possuir mais uso no futuro.
Ah, e por falar no Loki Clássico, ele com certeza protagonizou um dos momentos de maior demonstração de poder nestes últimos tempos. Apesar de breve, a sua participação é foi um dos pontos mais positivos de toda a série. E que atuação incrível a de Richard E. Grant!
Algumas das maiores inconsistências de ‘Loki’

Criar uma história tão densa quanto a de Loki é um caminho que levará qualquer roteirista a cometer alguns erros inevitáveis. Neste caso, a produção trouxe erros como a incompetência da AVT – mesmo sendo a organização mais complexa, responsável e grandiosa de todos os tempos – e o inexplicável plano de bombardeio descomunal de Sylvie.
Ainda, temos alguns outros pontos relevantes para levantarmos questões como “por quê?” e “como?”. Primeiramente, já que acabamos de falar sobre a tal “incompetência da AVT”, queremos levantar a dúvida do porquê de os Homens-Minuto serem tão inúteis. Eu perdi a conta de quanta surra eles tomaram ao decorrer de toda a série.

Nisso, outro ponto a ser analisado é o de que eles só utilizam armas corpo a corpo. Mais especificamente, seus bastões de podagem. Então, é sério que a agência possui tecnologia multidimensional e não pôde criar pelo menos uma pistolinha de podagem?
Ah, e se eles só entram em ação com armas brancas, por que é que são tão ruins em combate a curta distância? Sério, a única variante da AVT que luta bem é a Ravonna. E isso só ocorre porque ela é uma das grandes antagonistas da série. Se não, ela seria tão inútil quanto os outros.
Agora, temos uma cena em específico que gerou muito debate na internet. No episódio “Lamentis”, Loki salva a sua própria vida e a de Sylvie ao impedir que um prédio caia sobre eles. Mas, como? A telecinesia do personagem só havia sido usada para puxar objetos e empurrar inimigos.

Muitos teorizaram que ele pudesse ter pego uma das Jóias do Tempo da gaveta do carinha que não conhece peixes na agência. E essa poderia ser uma boa justificativa. Só que, o feito de Loki nunca mais foi mencionado com o passar do outros capítulos. Preguiça ou desatenção [do roteiro e do personagem].

Por último, temos a fuga de Sylvie quando criança. Sabemos que asgardianos não envelhecem como humanos. Inclusive, com Loki sendo um ser multicentenário. Portanto, a sua variante feminina tem ludibriado a AVT por quanto tempo? E eles nunca pensaram em ir atrás dela? Pois o que aparenta é que Mobius e Ravonna só passam a procurá-la pouco antes da série começar.
A maior parte dessas críticas podem ser explicadas com a frase “foi assim que Aquele Que Permanece quis que fosse. Mesmo essa sendo uma resposta definitiva para tudo isso, ainda não apagaria a ruindade de tudo.
O grandioso encerramento de ‘Loki’

Se tem uma coisa que as séries do MCU fizeram até então, foi entregar finais de temporada impactantes e extremamente importantes para sua mitologia. Em Loki, não foi diferente. Tendo feitos que acabaram por elevar ainda mais o potencial e alcance destas histórias compartilhadas.
Direi que foi satisfatório ter boa parte de minhas teorias concluídas com sucesso. E não, mesmo que tivesse apostado em coisas totalmente diferentes, o encerramento de Loki não me agradaria menos do que fez. Ótimo vilão? Check. Atuação de ponta? Check. Futuro promissor? Check.

Em questão d’Aquele Que Permanece (vulgo Kang), não poderia ficar mais satisfeito. Jonathan Majors entrega um ótimo trabalho, em meio a vários monólogos que abrem as portas para a Guerra Multiversal que devemos ver com o passar dos anos. Ademais, os Lokis ficaram faltando no episódio.
O nome da série é Loki, não é mesmo? Pois bem, o protagonismo das duas variantes acabou sendo deixado de lado para que a Marvel e Disney pudessem mastigar cada pedacinho de dúvida sobre o que é, como funciona e para que serve a Linha do Tempo Sagrada. Nisso, acabaram por extrapolar o foco no novo vilão. Esquecendo seus protagonistas.

Já disse que faltou explorarem um pouco mais da inversão na relação entre Ravonna e Mobius. Uma ceninha a mais aqui, um diálogo adicional ali… Só isso já teria sido melhor. Já Loki e Sylvie, passam de toda a tensão causada por Alioth para sentarem e comerem marshmallow numa fogueira, enquanto o Conquistador lhes expõe tudo que precisam saber.

O final de Loki não foi ruim, muito pelo contrário. Porém, após a euforia do momento e das revelações passarem, você começa a pensar “Loki foi um personagem super passivo neste episódio”. Nenhuma ação de Loki faz com que as coisas ocorram do jeito que ocorreram. Sylvie mataria o ditador de qualquer maneira. Ou seja, a presença dele não importou.
Apesar desse erro gravíssimo, guardei um último detalhe como elogio final. Já que os monólogos de Aquele Que Permanece refletem o próprio trabalho de Kate Herron como diretora e roteirista de Loki. É uma simples analogia, onde o trono é deixado para que o próximo venha e comande.
Ah, e ainda tem a cena em que o personagem exibe o próprio roteiro da cena para os protagonistas. Isso é muito meta cara!

No geral, o fim de Loki é bom. Deixa em aberto muitas coisas, mas alivia nossas preocupações com o rápido anúncio de uma próxima temporada. Porém, peca em tirar o brilho daquele que dá nome à série.
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Cena pós-créditos desta Crítica

Não poderia ficar mais feliz com o cliffhanger final, eles realmente fizeram uma mega referência à Planeta dos Macacos e Além da Imaginação!
