The Tomorrow War – Crítica

Vale a pena assistir o filme “The Tomorrow War”, do Amazon Prime Video?

Nos últimos anos, temos visto cada vez mais investimentos em produções originais por parte dos streamings. E não falamos apenas de seriados padrões, mas também de filmes e séries com enorme orçamento. O mais recente exemplo que tivemos foi The Tomorrow War, ou A Guerra do Manhã (título regionalizado), estrelado por Chris Pratt e exclusivo do Amazon Prime Video.

Inicialmente chamado de “Ghost Draft”, a produção foi anunciada e iniciada em fevereiro de 2019. As filmagens se encerraram em janeiro de 2020 e a estreia para os cinemas foi marcada para dezembro pela Paramount Pictures e a Skydance Media. Mas, o filme teve de ser adiado para 23 e julho de 2021, por conta da pandemia. E então, com a compra pela Amazon, o longa foi antecipado para 2 de julho, de forma exclusiva em sua plataforma.

Com direção de Chris McKay (Lego Batman: O Filme), produção de Chris Pratt e roteiro original de Zack Dean (A Fuga e Um Dia Para Viver), The Tomorrow War traz viajantes do futuro que retornam ao nosso presente com o objetivo de recrutar civis para travar uma guerra contra invasores alienígenas, que ameaçam a extinção da raça humana.

A viagem no tempo falha de ‘The Tomorrow War’

The Tomorrow War
(reprodução: Amazon Prime Video)

The Tomorrow War é um filme de ação e ficção científica que estabelece o subgênero de “viagem no tempo” como a base de sua estrutura. Mas ao decorrer de sua construção, esquece completamente deste conceito. Bem, não “completamente”, já que trata de trazer algumas explicações bem simples.

Vejam, apesar deste ser um filme de viagem no tempo, ele apensas usa isso como estopim para sua ideia dar certo. Puxem na memória a palavra que melhor define este tipo de história… Se você pensou em “consequência”, você compreendeu meu ponto. E se tem uma coisa que este longa não trás, são consequências.

Ao lidar com buracos de minhoca, uma história passa a dar passos entre muitos cacos de vidro, estes que podem ser equiparados à furos de roteiro. E The Tomorrow War é aquele filme que não está nem aí para o quão machucado seus pés estarão. Por isso, tivemos diversas inconsistências.

Um grande exemplo é por parte da interação entre Dan e sua filha, Muri. O filme ignora o fato de que a jornada de sua filha como militar – e cientista de importância na invasão – está ligada diretamente ao divórcio de seus pais e mudança no caráter de Dan. Portanto, voltar ao passado com ideias contrárias deveria anular a participação de Muri na guerra. Causando alterações significativaa na realidade.

Além disso, o roteiro negligência demais a participação da população do presente nesta história. Afinal, se o problema foi o de a humanidade ser pega de surpresa em 2048, por que é que a disseminação dessa informação 25 anos antes não alterou o percurso dos acontecimentos? Com certeza estaríamos mais preparados e militarizados até o fatídico dia da invasão. Como resultado, o cenário poderia se inverter.

Ainda falando sobre as pessoas do presente, penso que a falta de contextualização prejudicou muito a coerência deste filme. Quero dizer, as pessoas realmente não conhecem os Garras Brancas? Como é que não houve sequer um vazamento? Milhares ou centenas de civis vão e vem do futuro e ficam de boca fechada? Não dá pra engolir isso.

A pior parte deste último exemplo é que todos são enviados totalmente desinformados. É claro que nós temos de descobrir os perigos junto dos personagens. Entretanto, isso foi feito de uma forma tão burra que quebrou boa parte da imersão do filme. Afinal, ainda sem dar este tipo de exposição para o público, o exército poderia ter ensinado tudo de importante sobre os Garras Brancas em um simples Power Point para seus recrutas.

Garras Brancas: A irônica salvação de ‘The Tomorrow War’

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(reprodução: Amazon Prime Video)

Agora, vamos falar sobre o ponto que mais surpreendeu em The Tomorrow War: os alienígenas. Chamados de “Garras Brancas”, os vilões possuem um design muito criativo e eficientemente mortal. Não basta demonstrarem o alto nível de inteligência destas criaturas, o filme também dá foco em o quão mortais são os seus corpos.

De fato, sua primeira aparição (na escadaria), foi tão bem construída e conduzida que eu cheguei a me recostar um pouco mais enquanto assistia. Aparentemente, eles são quase que impossíveis de serem parados, quanto menos derrotados. O que acaba validando todo o terror comentado desde o início.

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(reprodução: Amazon Prime Video)

Ainda nisso, outro ótimo ponto é o momento escolhido para sua revelação. Para contextualizar de forma simples, basta compararmos o longa com o clássico “Alien: O Oitavo Passageiro”, onde temos um ser mortal e extremamente inteligente, que é ocultado durante grande parte do início do filme. Consequentemente, gerando curiosidade, angústia e surpresa em sua apresentação.

Agora, puxem na memória [ou apenas imaginem] a introdução de “Um Lugar Silencioso”. Apesar de ter uma ótima atmosfera de suspense durante todo o filme, a decisão de revelar a aparência dos monstros logo nos primeiros minutos acaba completamente com o potencial e interesse em sua “estranheza”.

Pois então, é exatamente na preservação deste segredo que The Tomorrow War acerta em cheio. Entretanto, depois disso, tudo acaba vindo por água abaixo. Por que? Bem, podemos utilizar outra analogia aqui, desta vez com videogames. Pois, sabem quando um inimigo isolado é extremamente difícil, mas quando se juntam em hordas, eles se tornam consideravelmente mais fáceis (“nerfados”)?

É isso mesmo o que ocorre no longa. Diferente de “Guerra Mundial Z”, The Tomorrow War acaba tirando aquela sensação inicial de “tem um deles aqui, vamos morrer”. Pois se você tiver uma única arma – até mesmo uma pistola –, este Garra Branca não será páreo para ela, justamente por não terem mais toda aquela inteligência.

“Pode copiar, só não faz igual”

The Tomorrow War: Pode copiar, mas não faz igual
(reprodução: 20th Century Studios / Warner Bros.)

Perceberam o quanto comparei The Tomorrow War com outros filmes logo atrás? Bem, essa foi apenas a ponta do iceberg, porque este filme é uma salada de conceitos já vistos antes. Podemos começar com a vibe de fim do mundo totalmente inspirada em *Independence Day” e “Armagedon”.

Olha, não entendam errado, utilizar outros materiais como inspiração é algo muito mais comum do que podemos imaginar. E em alguns casos, é até mesmo louvável – como a comparação que fizemos agorinha com “Alien”. Mas aqui, além de não oferecer nada único (não necessariamente inovador), a execução de toda essa salada é mediana (pra baixo).

Agora, outra comparação pode ser feita, dessa vez à “No Limite do Amanhã”, filme que também traz uma guerra contra extraterrestres e uma estrutura com idas e vindas no tempo. Mas neste exemplo, temos algo que além de bem explicado e coeso (o loop no tempo), também apresenta elementos que não se encontram em outros lugares.

Por fim, a coisa mais descarada utilizada como plot twist final do filme, é a revelação de que o Garras Brancas são armas biológicas de seres mais evoluídos. Alguém por acaso lembra de “Prometheus” e “Alien: Convenant“? Este é exatamente o mesmo plot destes filmes da franquia Alien. E não só isso, se forem assistir novamente, prestem atenção na semelhança entre o interior da nave de The Tomorrow War com a dos Engenheiros de Prometheus.

O resumo da ópera é: The Tomorrow War busca trazer uma ideia nova que não funciona direito (o já citado recrutamento temporal) e utiliza clichês do gênero para preencher os vazios e furos de seu próprio roteiro.

Muita história e pouca química

The Tomorrow War: História extensa e química inexistente
(reprodução: Amazon Prime Video)

Muitos podem discordar das várias críticas feitas até aqui, mas se tem uma coisa que deve ser unânime entre todos que assistiram ao filme, é o seu tempo de duração e a sua ambição extrapolada. Fui assistir ao filme com a preparação de apenas um trailer, e mais nada. Por isso, fiquei me perguntando durante todo o percurso se haviam adaptado 3 livros em um só longa-metragem.

Acontece que, apesar de ter muitas semelhanças com o livro “The Forever War’”, The Tomorrow War é um projeto original. Ou seja: os produtores e o diretor realmente decidiram forçar uma história propicia para uma trilogia por inteiro em uma única experiência de 2 horas de duração. Nada inteligente.

E no que isso resultou? Em um produtos com

  • Cenas repletas de cortes;
  • Relações e arcos mal desenvolvidos;
  • Mudanças repentinas no tom do filme;
  • Negligência de fatos e personagens.

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Saindo deste ponto, ainda temos que falar das atuações e química quebradas deste filme. Não entendam errado, Chris Pratt é muito mais do que só um ator de comédia. Ele já entregou boas performances anteriormente, como em “Passageiros” e “Sete Homens e Um Destino”. Mas aqui, entende-se que ele estava com preguiça ou o seu envolvimento como produtor o atrapalhou.

Na introdução, temos vários momentos entre Dan (pai), Muri (filha) e Emmy (mãe), mas nenhum consegue ser natural. Todas as relações neste filme – com exceção de Dan e o seu pai, James – são plásticas e sem vida. Muito disso vem pela atuação. Mas, não são todos os casos, já que Yvonne Strahovski (Muri adulta) e Betty Gilpin (Emmy) entregam ótimas performances.

Agora, para quebrar um pouquinho do que foi dito sobre a má execução de Chris Pratt no filme, podemos nos voltar para a parte da ação. Onde aí sim, temos muito o que elogiar.

Tiro, porrada e bomba de qualidade

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(reprodução: Amazon Prime Video)

Não se engane pelo tema, The Tomorrow War é também um filme de guerra, com muita (mas muita mesmo) ação envolvida. Nós vemos momentos de tiroteio e tensão ao longo de 4 segmentos distintos do filme, e devemos enaltecer a prima execução de 3 deles. Principalmente do primeiro.

Em uma mistura dos estilos de Michael Bay e Zack Snyder, este filme traz grandiosas cenas de correria e troca de tiros. Tanto as coreografias, quanto a narrativa do momento e os visuais das cenas, são muito bons. Ainda mais para os níveis de produção.

A fotografia de The Tomorrow War ajuda a enaltecer o produto como um todo, nos colocando por completo neste mundo apocalíptico.

Mas (sempre tem um “mas”), tudo isso vai por água a baixo depois que Dan retorna para o passado, dando início ao 3º segmento do filme. Aqui, The Tomorrow War abraça de vez a galhofice, com:

  • O governo negando uma vantagem estratégica imperdível;
  • Um aluno de colégio sendo procurado como a última esperança, ao invés de um especialista (ou mesmo uma rápida pesquisa no Google);
  • O uso sem um pingo de estratégia dos “venenos” em uma única fileira de Garras Brancas na nave submersa.
  • A morte de centenas (ou até milhares) de Garras Brancas com uma única explosão.
  • Uma luta mano a mano [este foi o auge da loucura] com a última fêmea dia Garras Brancas. Com direito a soco na boca e tudo mais.

Por fim, não há como negar: The Tomorrow War tenta ser mais do que realmente é em seu início, e até mesmo chega a convencer por um tempo. Todavia, a partir de um ponto os desenvolvedores seguiram com os seus corações e fizeram o filme B que tanto queriam. Ao final, o longa é uma boa Sessão da Tarde e que, ironicamente, é esquecido com facilidade no dia seguinte.

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